segunda-feira

Postagem



      É preciso de palavras pra poder escrever, e que venham, venham ,venham todas. Mas, com licença, 'cadê-las?'  Não me faltem por favor, não passem sem parar por aqui. Sou feito, assim como todos, de palavras. Também sou feito de silêncio, que não pode ser postagem, não é lido, mas é tão nítido. Que venham todos se dizer, ou se calar, mas que venham, por uma postagem mais constante, ou mesmo por um ócio mais criativo. Aqui não tem catraca, se quiser pode sentar, ficar na janelinha.  Pode até deixar um comentário, mas só se você quiser.

sexta-feira

Sem delongas

O verão é mesmo uma época diferente. Pelo menos na terra tupiniquim. Na São Paulo cheia de prédios, o calor era insuportável.
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Enquanto Wanessa se agarrava com o Cláudio perto de um poste perto de uma padaria perto do local de trabalho, dela, com o calor subindo [36°] entre eles à cada segundo, seu noivo, Lei (Vanderlei), liga em seu celular desligado a todo momento, feito um louco; O número para o qual você ligou se encontra desligado ou fora da área de cobertura, por favor, tente novamente mais tarde ou  deixe uma mensagem após o bipe; possivelmente querendo saber se vão se encontrar. O Cláudio, esse é casado, a esposa, Lia (Lia), está grávida de uns 9 meses, e o cabra não leva jeito pra essa coisa de paternidade. É o que parece.
Passadas quenturas, o sopro do fim de noite, começo da escura madrugada, traz consigo um claro desespero refletido no ponteiro do relógio, dele.
- Nossa, olha as horas Clau. O Lei me matará, de hoje não passo.
Já o Cláudio tava tranquilão, a esposa na casa dos pais esperando pra parir, quilômetros longe, tudo como a brisa da noite, suave, fresca, sem remorso.
- To perto de casa, vou andando, chegando lá eu ligo pra ele e invento uma desculpa.
(...
- Onde você tava?
- Oi amor, tudo bem?
- Onde cê tava Wan?
- Nossa, homem, não começa! Eu tava no abrigo, eu não te avisei que hoje era a noite de apoio aos moradores de rua da rua Açorianas?
- Não.
- Pois é. Nossa, tava tão lindo os..
- Por que desligou o celular?
- Tava ligado, é que naquele buraco não tem sinal, você deveria saber disso já que sua avó mora por lá!
- Mas olha as horas, mulher, olha as horas. Eu estou feito louco aqui!
- Bom, eu tento ajudar as pessoas e você me critica, eu estudo serviço social pra que? Diz? Sem contar que me confundo toda com esse horário de verão maluco, e esse calor? Diz! Esses mosquitos me picando, aff...
(Naquela de evitar delongas...)
- Tudo bem, tudo bem, eu já entendi.
- Então passa aqui pra me dar boa noite, Leizinho.
- Em 5 minutos to chegando por aí. Faz uma limonada bem gelada, daquele jeito, estilo raspadinha.
- Mas é claro, Lei, to te esperando ta? Demora não!
-
Não há nada que uma boa limonada de verão, daquele jeito, estilo raspadinha, não resolva.

domingo

Para maiores de 120 anos


Sei que hoje é um dia, mas não sei que dia é hoje: quanto o tempo andou desde o momento em que perdi meu relógio e fiquei aprendendo o sol, que nem sempre aparece, mas nunca desaparece pra sempre? Estrela que tem os ponteiros voltados para a imensidão de qualquer momento. E o que é que acontece quando se acaba a vida de aventuras e a vida pacata, quando se chega ao fim à intimidade do abrir de olhos em um dia de chuva que depois se abre em luz? Há momentos que passam, todos os momentos passam, mas há lembranças que por mais que se desgastem não desaparecem, essas são como o sol. Milhares de pessoas passarão pelas vidas de milhares de outras pessoas, sendo que umas ficarão e outras partirão. O tempo se encarrega de levar aparentemente tudo, até mesmo si próprio, mas sempre deixa um vestígio, que pode ser o de que o que foi felicidade não se pode ser esquecido. Mas o tempo não é inimigo, mesmo quando deixa a vida parecendo um arco-íris em preto e branco com um pote de ouro trancado à sete chaves no fim do longo caminho. O tempo só trabalha em função da vida, que tem validade, porém suplica ser bem vivida. O tempo não é esquecimento, é lembrança, é verdade. A verdade mais duradoura do tempo é a felicidade, que se estende no pequeno instante de um sorriso de alguém que se ama, que se chama... de amor.

terça-feira

Perro

Certa vez observava um perro que andava pela calle, com sua pata esquerda machucada. Não havia sangue. Conforme ele andava era possível sentir sua dor aumentar pelo apertar de seus olhos, contudo ele não parava, ao menos sinalizava desistência. Até que ao atravessar a calle, do lado esquerdo para o lado direito, um coche o atropelou. Havia muito sangue. O coche não parou nem antes, nem depois. O perro morreu. Talvez, não soubesse que aquilo o pudesse levar a morte, muito menos que pudesse morrer um dia, nem mesmo por instinto saber o que era a morte. O perro aparentava um instinto invencível dentro de si, porém vencer a espécie de seu melhor amigo, às vezes vilão, morotizado, não era tão fácil.
Nunca soube se aquele animal tinha nome, mas soube que por seus movimentos ele não tinha mais dono. O que aprendi com o perro é que se pode escolher aquilo que se será. É claro que um perro é só um perro, com um repertório limitado de escolhas. Mas um hombre também é só um hombre, e muitas vezes suas escolhas parecem ser bem menores do que bem maiores do que a de um perro. É óbvio que o cérebro do perro não possui tantas conexões complexas como o de um hombre, ao ponto de fazer com que consiga realizar transformações tão grandes em seu ambiente natural como um Hombre de inteligência comum realiza, levando-o a escolher seu destino a longo prazo. Todavia o cérebro do hombre às vezes também é enganado pelo cérebro do destino.
Consegui abstrair algo daquela experiência. É possível escolher quem seremos no minuto seguinte, mesmo quando a escolha é limitada pelo fato, mesmo quando ela nos leva a consequências trágicas, mesmo quando ainda com a mudança continuamos o mesmo e não mudamos nada. Claro que não é uma conclusão tão inédita, e que é, na verdade, tão velha quanto quem a formulou nos séculos passados, a seu modo que não do meu. Mas ainda sim é importante observar as manifestações que ocorrem a nossa volta, e captar não o que elas querem, mas o que elas podem dizer.
O perro poderia continuar do mesmo lado da calle, mas atravessou, poderia parar e esperar seu machucado sarar, mas continuou. O hombre poderia ter prestado mais atenção e freiado seu coche no devido momento, ou poderia nem ter saído de coche naquele dia, ou então nem ter comprado aquele coche. Por mais que o perro não soubesse de nada e agisse por instinto, ele sabia de algumas coisas, que da maneira dele, só ele vivenciara. Do mesmo modo que o hombre foi embora com seus medos sem freiar seu coche. Do mesmo modo que o coche levou consigo os danos do impacto.Nunca se sabe qual será o resultado de uma próxima escolha, não é mesmo?

quarta-feira

Lynchiano




Quem é?

Ela não diz o nome, dá dois passos de volta com os olhos bem abertos - desperta mistério, mas tem medo. Do que se esconde mesmo querendo sabê-lo?

Quem é?

Talvez não seja ninguém! Só o vento respirando... (Destranca a porta) (Abre a porta) ( Mira)

Você?

A cara assustada continua, o que acontece não é, até então, descoberto nem mesmo por ela, a dona da cara. O corredor é extremamente escuro.

E-u!

Não está calma, mesmo! O corredor é realmente muito escuro!

Você não está calma, está?

Respira fundo e tenta fingir que está, ou só porque está mais calma mesmo! O fato é que respira tão profundamente que sente-se o sopro quente de ar saindo de seus pulmões e exalando por todo o corredor.

Mas estou aqui!

Um charuto é aceso dando luz ao corredor úmido.

Não precisa estar aqui, precisa estar calma! fuma ainda? Aceita um?

Ela começa a suar discretamente, porém sua pele deda o frio do ambiente.

Nun...ca pareço estar bem, ou calma, por isso sempre pareço ser fumante!

A fumaça do charuto começa a subir.

Não se desespere! Tenho algo pra você que não se parece com um charuto (Apaga o charuto, o joga no chão) entre!

A sala é bem aquecida pelo aquecedor elétrico que mais parece a lenha (sentam-se no sofá) o frio desaparece, o climax continua!

O que tem pra mim?

Liga o som, serve um drink ( Parece Uisque), apanha uma pequena caixa de coloração preta e entrega-lhe!

Toma!

Os olhos dela se arregalam!

Devo?

É claro!

Ela abre, olha, chora e sorri ao mesmo tempo... parece ser um, parece um.. parece... um par de sapatos? Porra meu, que sacanagem!CORTA!




quinta-feira

( na foto: Tom Waits)

Sim, tu te tornaste um idealista por natureza.
E agora diga com todas as letras:

- eu? Não!