sábado

Quebra cabeça

Ouvi dizer que vida é como um quebra cabeça, Um quebra cabeça? Parte daqui, junta de lá! Esse que vem todo repartido, é montado, e destruído, como as horas que se passam no ponteiro sem se encontrarem. Desmontado a cada manhã, ou noite, como em um guarda-roupa que se esvazia e ainda se sobram peças antigas. Um rabisco de tinta na parede que não se apaga, os restos de jeans no varal enquanto a chuva cai. As imaginações e as fraquezas do quebra cabeça vem do saber que alguém o montará, desmontando sua magia, e que todo seu segredo se revelará, irá por terra até o mar inteiro das ondas quebradas. Os lados e as formas que cabem em um pedaço de sorriso, de quem monta, vão se perdendo com os ventos que sopram as areias douradas do mar inteiro pelos olhos das ondas quebradas, até quem monta e remonta o quebra cabeça. Tudo junto é só um pedaço. E quem monta brinca, tira onda e se molha, e se faz de vida, uma vida que devaneia os despudores em um quebra cabeça. Um pedaço já é tudo junto. Em um quebra cabeça tudo tem seu lugar, nada fica sobrando, tudo tem seu denodo e os encaixes são tão propositais quanto forçados pelo destino. E quanta destreza dos cantos dos olhos que quebram a vida, como uma onda ou um quebra cabeça, um derrame na mesa, forrada de formas, rodeadas por cadeiras sem pés nem cabeças. E toda cabeça é quebrada. E todo quebrado é inteiro. O inteiro não se separa. Passa o toque, o toque da manhã, que desperta a cabeça de quem monta o quebra cabeça, sem se repartir. Passa o retoque, o retoque da tarde, que preenche a cabeça de quem termina de montar o quebra cabeça, em pedaços. Passa o entoque, o entoque da noite, que domina a cabeça de quem olha pro quebra cabeça montado, inteiro novamente; e nada vê. Os feixes por traz dos olhos deixam a luz passar lentamente, o escuro é ingênuo. Raso é o passo, profundo agora, é o laço, entre o montante de peças e aquela cabeça, a que monta o quebra cabeça, o que vira só uma parte sem fim no meio de tanta beleza, a do quebra cabeça, que é tão complicado e infinito, que se resume a só uma peça.


4 comentários:

Daniela Lima: disse...

Gostei, Rodrigo.

Marcela disse...

Amei o texto... Realmente, é tudo um grande quebra cabeças!
*;

Anônimo disse...

[i]Sim sim, muito bom!

[...] no quebra - cabeça da vida.

gostei.

Anônimo disse...

será que eu seria uma peça do seu quebra - cabeça? :)